Relacionamentos a partir dos 45 anos
Vivemos pelo menos cinco grandes crises existenciais em nossa vida. E elas se dão a princípio de sete em sete anos.
A primeira é exatamente quando passamos a existir neste mundo. Quando saímos da barriga entramos em primeira vez em contato com a existência a partir de um esforço próprio.
A dor do nascimento. A segunda crise vem por volta dos 7 anos, quando a criança começa a confrontar seu mundo de ilusões com as verdades que ela começa a perceber. Depois, por volta dos 14 anos vem a crise da puberdade, adolescência, onde tudo em volta deste jovem parece estranho ao seu julgo.
Em torno de 21 anos quando este adolescente, está prestes a se formar, ou ter que decidir seu futuro profissional, e deixar o mundo de brinquedo para ser adulto, ele vive nova crise. E por fim, mais tarde quando está saindo da fase adulta para a fase da maturidade o sujeito vive novo momento de mudanças. Talvez o maior de todos. É quando ele é capaz de melhor integrar todas as fases e passagens e perceber que o tempo urge. As defesas caem e o amor começa a ressurgir de forma autêntica e genuína.
Temos visto muitas pessoas nesta faixa etária assumirem a vida solteira como opção. Teria algum perfil específico deste público?
Esta é a última grande crise existencial. Se uma das partes, não evolui no tocante aos comportamentos e atitudes de uma pessoa madura, provavelmente isso vai acontecer.
O mais eficaz elixir para casamentos duradouros é a maturidade. Viver a dois é uma arte de descobertas e revelações diárias. Quando se está aberto e disponível para revelar seus véus bem como os do parceiro, a cada dia aumenta-se a comunhão e cumplicidade entre os dois. Por outro lado, se a vida vai amargando um ou outro, e com isso o sujeito for se fechando e se limitando na relação certamente ao chegar nesta fase ele vai querer encontrar um culpado assim como culpou a vida por sua amargura…. É quando resolve mudar de vida acreditando que o problema está do outro lado…
Quais são os impactos de uma desilusão amorosa? Como um divórcio ou relacionamentos acabados.
São devastadores se a questão não estiver bem integrada. Especialmente se o tempo de convivência for grande e se existir filhos, principalmente menores. O que geralmente ocorre é o desenvolvimento de um laço de dependência mútua, onde a vida começa a se configurar dentro de determinado contexto e depois de um certo tempo, passa a ser quase impossível que uma das partes imagine uma vida sem aquele parceiro. Muitas vezes o amor pode se dissolver ou diminuir sua intensidade, e então o que sobra é este laço de dependência. E como é exatamente neste momento que o indivíduo começa a sofrer com a crise de maturidade, nasce um turbilhão de emoções negativas que vão precisar ser melhor integradas, talvez com apoio de um profissional.
Eles enfrentam mais ou menos dificuldades em voltar a se relacionar novamente após uma desilusão?
É muito relativo. Tudo vai depender de como este sujeito saiu da última relação. Se saiu ferido, desiludido, e ainda estiver em fase avançada da vida, certamente terá muita dificuldade de se encontrar novamente. Por outro lado, se apesar da desilusão, este indivíduo conseguir integrar este passado e a razão benéfica da mudança para ambos, ele pode sim se encontrar de novo com alguém provavelmente com um amor muito mais sofisticado para oferecer ao outro.
A maturidade e a independência conquistadas com o tempo são fatores que influenciam a escolha de parceiros e formas de relacionar?
Sem dúvida! As primeiras escolhas amorosas geralmente vêm muito contaminadas pelas nossas relações com nossos pais. É muito comum percebermos mulheres que se casam com homens que são a cópia de seus pais e homens que se casam com mulheres que são suas mães…. É como se buscássemos nesta nova relação reparar algo que foi perdido na relação com os pais. A tendência é dar errado… Sempre que buscamos uma relação idealizada os riscos são grandes. Já com a maturidade as expectativas com relação aos outros mudam, ou simplesmente deixam de existir. Aí reside o grande segredo da relação madura. Entender que o outro é um ser individual e separado de você. Aceitar o outro e respeitá-lo em sua individualidade é a maior prova de amor que qualquer um pode dar ao seu parceiro…
Existe alguma diferença notável entre homens e mulheres nesta fase da vida em se tratando de iniciar uma nova vida amorosa? Ou na “coragem” para se divorciar e buscar novas perspectivas?
É provável que sim. Eu diria que não exatamente no gênero, mas no papel desempenhado na relação. Se o homem é o provedor econômico, a mulher mais submissa essa coragem provavelmente imperará no homem. Por outro lado, se a mulher for mais independente, e conseguir na relação se posicionar numa situação de igualdade, é importante que este marido se cuide se não quiser ficar na mão!
Fabrício Maurício é Psicólogo, Coach, Consultor em gestão, autor dos livros: “Batalha Interior – Escolhas da Vida” e “Diário de uma Bicicleta” publicados pela Editora Pandorga.
www.fabriciomauricio.com.br
Virginia Moreira